Quadros da Metrópole

Ao redor de minha janela, vejo uma série de prédios com suas luzes acessas.

Em cada janela, uma alegria, uma dor, uma saudade, uma esperança, uma desilusão amorosa, um problema financeiro, um suicida, um artista, um blogueiro, um psicopata, um empresário bem sucedido, um desempregado, um doente, uma pessoa infiel, um gay.

O que afinal pensam eles no íntimo de suas casas e na escuridão de suas mentes

Olho pela janela e só vejo pessoas..mas quem são elas, o que fazem, o que pensam? Será que tem a mesma curiosidade do que eu? Alguém pode estar me observando no momento por entre as luzes apagadas.

Faço analogias com o Filme “ Ensaios sobre a cegueira”, em que Saramago, autor do livro, não determina nome aos seus personagens, como se a cegueira tirasse a identidade de cada um. Meus personagens, não são cegos, mas estão mudos. Tal qual o filme, seus nomes são substituídos por atributos que os caracterizam; Meus amigos ocultos são: O casal de senhores que praticamente apenas divide o sofá, o casal sem mobília na casa que até agora não sei se iram se mudar ou se acabaram de chegar, a imensa família da cobertura que parece ser bem animada e unida, a mulher solitária do último andar que fala ao telefone na janela e eu ouço tudo, a empregada que fuma o seu cigarro escondido da patroa na área de serviços, e o rapaz que me faz companhia no computador até altas horas da madruga. Gosto muito do quarto dele.

Para cada um imagino uma vida. O dia já vai amanhecer.

A vida já começa na cidade e meus personagens continuaram ali, emuldurados por suas janelas indiscretas.