Viver é a arte de testar seus nervos a cada segundo. “Faca na caveira é a palavra de ordem”

Viver é a arte de testar seus nervos a cada segundo. “Faca na caveira é a palavra de ordem”

Meu trabalho é localizado na faixa de gaza do Rio, assim conhecida por abrigar algumas das favelas menos auspiciosas da redondeza. E olha que nem periculosidade e insalubridade recebemos!

Ontem a noite, o Bope deveria estar com tédio e resolveu montar uma operação que daria inicio ás 06:00 da manhã de hoje. Ótimo, a população agradece!!! Que morram esses craqueiros safados que tiram a vida de inocentes a troco de nada. Se tem pena, leva para casa. Se faz parte de algum movimento dos direitos humanos, que faça então com os humanos e não com esses seres irracionais que são capazes de atirar mortalmente contra uma pessoa inocente.
Toda a vez que entro nessa via, peço proteção até para quem não conheço. Afinal de contas é “peça para entrar e reze para sair”. Hoje, em especial, percebi algo de estranho. A entrada da rua estava calma a ponto de um pacato cidadão andar de bicicleta pelo caminho. Não pude deixar de notar que ele me olhou com uma cara de “ olha lá, vai se Fuuuu!!! Hahaha. Ou seja, o prenuncio se concretizava. E realmente me FU.

Mais adiante, o transito parou e ouvi helicópteros. Confesso que medrei, porque é o tipo de lugar que se o tiroteio come você não tem para onde fugir. O Maximo possível é abaixar e rezar para que o seu tanque de gás não estoure quando uma bala perfurar..rss
Mas para a alegria dos trabalhados refugiados da guerra civil, não havia tiroteio. Passava-se de uma operação policial de grande porte….até que..subitamente ouço gritos, não.

Não eram gritos, eram hurros de uma mãe desesperada que batia freneticamente no armário do Bope com o fuzil em punho. Abri o vidro do carro e quando mencionei perguntar ao Seu policia o que ocorria, es que me passa o motivo da ogrice da pobre mãe. Um rapaz é arrastado pelo asfalto. Ou melhor, parte dele, porque a outra o fuzil tratou de largar em algum beco daquela favela. Povo, tenho 32 anos de praia e nunca na minha vida tinha visto algo assim, mesmo porque não sou consumidora de filmes e jornais sensacionalistas. Fiquei ali, de forma que não conseguia tirar meus olhos daquela cena horrorosa. Me senti como uma figurante do Cidade de Deus, até que me tornei a Protagonista, quando repentinamente um microfone invade o carro.. “ o que vc está achando da operação do Bope” Dizia a repórter com colete a prova de balas e um “ IMPRENSA” estampado no peito.

Ah, como ?? Bicho, se eu não conseguia coordenar minha perna esquerda com a mão direita para passar a marcha, quem dirá falar algo que pudesse ser televisionado sobre a operação do Bope. E foi no que deu…

Eu acho muito bom mesmo! Tem que acabar com essa pouca vergonha, bandido bom é bandido morto!Esses safados acham que são donos das ruas e saem por ai matando trabalhadores, tornando nossas vidas insustentáveis, trazendo horror a população. Se é bandido que morra mesmo!!! Pelo menos é menos um a matar um inocente! Que historia é essa. Sou eu que pago os impostos mais caros do mundo e justo eu que tenho que ficar presa dentro de casa para não ser assaltada ou morta? Porque sou obrigada a entregar meus pertences que lutei muito para conseguir para um safado aproveitador? O Bope ta certo mesmo.. Tem que aterrorizar e quem está incomodado na favela que se mude de lá e vá pagar água, luz, net como todo o cidadão .


Bem pessoas, muito provavelmente essa minha entrevista não irá ao ar, mas só irei saber na hora da primeira edição do jornal..rsss

Mas falei mesmo!! Foi uma catarse completamente isenta de censura acalorada pelo momento inédito em minha vida e convenhamos que ás 7:30 da manhã meu cérebro ainda está de pijama

Intéeeeeeeee